METAFÍSICA
Às vezes, um verso transforma o modo
como
se olha para o mundo; as coisas
revelam-se
naquilo que imaginação alguma as supôs;
e
o centro desloca-se de onde estava,
desde
a origem, obrigando o pensamento a
rodar
noutra direcção. O poema, no entanto,
não
tem obrigatoriamente de dizer tudo. A
sua
essência reside no fragmento de um
absoluto
que algum deus levou consigo. Olho para
esse vestígio da totalidade sem ver
mais
do que isso — o desperdício da antiga
perfeição — e deixo para trás o caminho
da ideia, a ambição teológica, o sonho
do
infinito. De que eternidade me esqueço,
então, no fundo da estrofe?
Nuno Júdice. Por dentro do fruto a
chuva. São Paulo: Escrituras, 2004, p.82.
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