Minha polidez foi esculpida sobre material resistente.
Daí, amiúde, a sensação de que ela é frágil e precisa de atenção constante. Não
que eu seja artificialmente educada. A educação é sempre um artifício, uma
batalha que se trava contra o corpo e a natureza. É que não domino todos os
traquejos das pessoas ditas civilizadas e, ao primeiro vinho, a franqueza inadvertidamente, sem querer, por vezes transborda. A vida é feita de rituais, e a civilização é apenas um deles. Ou
terá sido construída sobre o recalque de outros rituais, a ponto de ter-se a
impressão de vivermos uma vida desritualizada?
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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