Há um momento, entre o sono e a vigília, que tem me
surpreendido ultimamente. Estou caindo de sono, com um livro nas mãos ― no momento A lua vem da Ásia ―,
e ainda penso que leio. Então os olhos começam a cerrar-se sobre um parágrafo
que nunca mais termina, enquanto imagens estranhas atravessam minha mente como
se fossem choques, pois volto a despertar imediata e instantaneamente,
surpreendida, embora tenha demorado a percebê-lo assim, pelo conteúdo dos
sonhos que está a penetrar a vigília. Os sonhos cabem na inconsciência do sono,
e por isso a sensação de choque. São imagens e sensações estranhíssimas, que
não conseguem encontrar expressão e vazão na linguagem e em sua arquitetada
sintaxe. Vencida pelo sono, deixo o livro e procuro uma posição confortável
para dormir, imaginando o que irei vivenciar enquanto o eu da vigília estiver
ausente, praticamente sem conseguir ter acesso a isso, pois que vigilante,
pela manhã, o eu volta e intercepta o que poderia chocar.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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