A minha ingenuidade parece mesmo incurável, e quase
tendo a vê-la como um defeito. Sequer parece haver antídoto ou vacina para ela.
Não adianta eu me precaver ou me prevenir para não parecer ou ter atitudes
ingênuas. A prevenção cria um artifício frágil que, ao erigir-se em moldurada da ação, deixa brechas por onde a inevitável vida aflora, emerge, e aí percebo que
foi vã a tentativa de não ser (ou parecer) ingênua. Não há saída. Talvez seja
possível fazer da ingenuidade uma possibilidade de doçura e bondade, em vez de
tentar esmagá-la sob o imperativo de ser sempre esperto, veloz e capaz ― “sempre
alerta”. O espírito de escoteiro é questionável exceção de acampamento. Não gostaria de ser ingênua (parecer já é outra coisa), mas intuo que pouco disso está sob controle.
Talvez seja mesmo ingênuo achar que está.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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