“Eu estou roubando
do espelho, é isso?” Esta fala,
que saiu em lugar de outra, efetivamente dita a um outro, num momento em que
sua rememoração foi apreendida como sintoma de angústia, é absolutamente
libertária, pois se eu posso roubar do
espelho, então eu não estou tão à mercê do que em mim é angústia quanto
(me) supunha, seja a que motivou a fala ou outra.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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