“Insolação” também poderia se chamar “Inanição”: as
personagens vão morrendo aos poucos de inanição em sua busca de amor, pelo amor.
Trata-se de um filme de estrutura narrativa tênue, quase inexistente, pontuado pela poesia e pela digressão existencial, como se o
sentir fosse mais importante que o contar. Personagens passando por uma dissolução emocional cujo fundo é uma
paisagem árida, inóspita, abrasada pelo sol e pela solidão, uma arquitetura que
termina por esgarçar o frágil tecido daquelas subjetividades errantes.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário