Não
digas nada a quem te disse tudo —
Tudo, esse tudo que se nunca diz…
Essas palavras feitas do veludo
A que se não sabe o matiz.
Tudo, esse tudo que se nunca diz…
Essas palavras feitas do veludo
A que se não sabe o matiz.
Não
digas nada a quem te deu a alma…
Que a alma não se dá. O confessar
É feito só para se obter a calma
De nos ouvirmos a falar.
Que a alma não se dá. O confessar
É feito só para se obter a calma
De nos ouvirmos a falar.
Tudo
é inútil e também mentira.
É um pião que um garoto na estrada
Deita só para ver como ele gira.
E ele gira. Não digas nada.
É um pião que um garoto na estrada
Deita só para ver como ele gira.
E ele gira. Não digas nada.
Fernando
Pessoa. Poesia 1931-1935. São Paulo, Companhia
das Letras, 2009, p.380.
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