Um fantasma é um ser que você encontra quando menos
espera, embora saiba de sua existência concreta, sendo o encontro a confirmação
do que já se sabia. Como os fantasmas se criam em nós? Mistério. Os meus, agora
sei, surgiram na medida em que eu tentava conciliar coisas muito conflitantes,
díspares. Mas o grande fantasma, origem dos outros, é a ilusão da unidade do
eu, como um centro onde as decisões são tomadas. O eu como uma usina altamente
capaz de produzir a energia necessária à existência, contornando e resolvendo os
conflitos. Quando o fantasma aparece, o que está aparecendo é o caráter fantasmático
da ilusão subjetiva: o eu falhou, não porque é falível, mas porque é
inconsistente.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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