Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 8 de março de 2013

QUEIME DEPOIS DE LER

Não sei se é possível comentar Queime Depois de Ler, dos irmãos Coen, sem incidir em reducionismos: as aparências enganam, mas é a única coisa de que as personagens parecem se valer, a única coisa que elas têm para se orientar no caos dos acasos que vão modificando suas rotinas. Os mais astutos passam recibo de idiotas, otários, até mesmo ingênuos. E os aparentemente ingênuos, como a escritora de livros infantis, chegam a ser detestáveis, revelando-se tão vulgares quanto as personagens emaranhadas nas tramas fakes de espionagem e suspense. Ninguém se salva, e praticamente todos se dão mal. O antídoto parece ser o humor, a capacidade de fazer rir do que é ridículo, mas que só pode ser entrevisto com certo distanciamento.

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