Ah,
sempre no curso leve do tempo pesado
A mesma forma de viver!
O mesmo modo inútil de ser enganado
Por crer ou por descrer!
Sempre, na fuga ligeira da hora que morre,
A mesma desilusão
Do mesmo olhar lançado do alto da torre
Sobre o plaino vão!
Saudade, ‘sperança — muda o nome, fica
Só à alma vã
Na pobreza de hoje a consciência de ser rica
Ontem ou amanhã.
Sempre, sempre, no lapso indeciso e constante
Do tempo sem fim
O mesmo momento voltando improfícuo e distante
Do que quero em mim!
Sempre, ou no dia ou na noite, sempre — seja
Diverso — o mesmo olhar de desilusão
Lançado do alto da torre da ruína da igreja
Sobre o plaino vão!
A mesma forma de viver!
O mesmo modo inútil de ser enganado
Por crer ou por descrer!
Sempre, na fuga ligeira da hora que morre,
A mesma desilusão
Do mesmo olhar lançado do alto da torre
Sobre o plaino vão!
Saudade, ‘sperança — muda o nome, fica
Só à alma vã
Na pobreza de hoje a consciência de ser rica
Ontem ou amanhã.
Sempre, sempre, no lapso indeciso e constante
Do tempo sem fim
O mesmo momento voltando improfícuo e distante
Do que quero em mim!
Sempre, ou no dia ou na noite, sempre — seja
Diverso — o mesmo olhar de desilusão
Lançado do alto da torre da ruína da igreja
Sobre o plaino vão!
Fernando
Pessoa. Poesia 1918-1930. São Paulo, Companhia
das Letras, 2007, p.161.
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