Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 28 de setembro de 2013

Ricardo Reis

Pobres de nós que perdemos quanto
Sereno e forte nos dava a vida
        O único modo
O único humano de a ter...
        Pobres de nós
Crianças tristes que mal se lembram
De pai e mãe
E andam sozinhas na vida cega
        Sem ter carinhos
        Nem saber nada
De aonde vamos pela floresta,
Nem donde viemos pela estrada fora…
E somos tristes, e somos velhos,
        E fracos sempre…
        Sem que nos sirva.

Poesia completa de Ricardo Reis. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005, p.33.

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