Sonhos... o que fazer deles? Não os sonhos de
outrora, metamorfoseados em “hoje”, mas os originais, que comparecem noite após
noite trazendo ecos de um mundo pouco habitável. A sustentabilidade dos sonhos —
quase um clichê —, fantasmas noturnos dos quais restam borboletas, não por
comportarem beleza, mas pelo efeito da imagem saltitante e fugidia no terreno
da memória. De intrincados enredos emergem lepidópteros fugidios, que aos
poucos se dispersam com as primeiras luzes do dia. Camadas e camadas de
inconsciente removidas enquanto se dorme. Por que sonhamos? Uma explicação
biológica dirá que são um traço evolutivo, uma espécie de compensação noturna
para as tensões diurnas, uma forma do organismo colocar-se em equilíbrio. Mas
se permanecem com o dia, estão pedindo algo do corpo que lhes serviu de palco,
ainda que seja essa parca escrita, circular e evasiva, forma de continuarem
batendo asas para além do efêmero do imago.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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