Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 14 de agosto de 2010

bob dylan... just like a woman

Sem perceber, fui me tornando uma dyleana, uma amante do Bob Dylan. Foi acontecendo muito aos poucos. Lembro-me do primeiro CD, Time Out Of Mind (1997), adquirido há coisa de 10 anos atrás, numa loja em liquidação - comprei dois de vez, ambos foram parar em mãos alheias, e só recentemente recuperei um deles. Até onde eu sei, esse CD, atualmente, só importado. No entanto, opiniões mais autorizadas afirmam que é uma das melhores coisas que o Dylan já fez (segue um breve comentário que encontrei num blog). Quer dizer, eu travei contato com o Dylan pela sua face mais sombria, mas de uma poesia e beleza espantosas. O disco agradou à crítica, entrou em rankings, angariou três grammy awards, incluindo álbum do ano (outros dados no site oficial do cantor). Vou me servir das palavras de um amigo: "Sobre as coisas que mais amo e as pessoas que mais bem me fazem, delas, pouco sei falar, sempre falho, fracasso, elas estão próximas do indizível." Não saberia dizer de que forma se intensificou minha relação de amor com Bob Dylan, mas dois fatores certamente entraram em cena: a vinda para o Rio de Janeiro associada a um emprego estável, que me deu tempo, dinheiro (pouco, diga-se) e certa tranquilidade para fazer as coisas que gosto; a própria experiência do blog. De forma que, "de repente", começou uma avalanche de filmes, vídeos, DVDs, CDs, posts e até mesmo um livro. Isso tudo sem pressa, um amor dilatado, uma paixão esfuziante. Mas o lance é esse: Bob Dylan une duas coisas que amo muito e me fazem bem: música e poesia. Então nunca cansa, é sempre um prazer renovado ouvi-lo... pois, como é comum se escutar por aí, como um cara com uma voz tendendo ao fanhoso, um visual mais para o desarrumado, um ar meio blasé conseguiu firmar-se no universo da música? Só ouvindo para entender.

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