Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 27 de fevereiro de 2011

A mulher que escreveu a Bíblia - Moacyr Scliar

A feiura é fundamental, ao menos para o entendimento desta história. É feia, esta que vos fala. Muito feia. Feia contida ou feia furiosa, feia envergonhada ou feia assumida, feia modesta ou feia orgulhosa, feia triste ou feia alegre, feia frustrada ou feia satisfeita ― feia, sempre feia. (SCLIAR, Moacyr. A mulher que escreveu a Bíblia. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007, p.15).

Parágrafo inicial do primeiro capítulo da história narrada em A mulher que escreveu a Bíblia, parodiando, no primeiro enunciado, o poema célebre de Vinicius de Moraes. Na verdade, o livro inicia com uma espécie de prólogo, sem título, em que o analista/terapeuta de vidas passadas situa e apresenta sua paciente, que seria a autora da narrativa cujo primeiro parágrafo é destacado. Tudo com humor cortante. No site da Travessa, é possível conferir o prólogo, em que uma voz masculina, na cena psicanalítica, apresenta o drama de sua paciente/personagem, que passa a ser seu também (aqui).

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