Caetano Veloso foi mestre em pinçar da imaginário popular certas sugestões e dar-lhes tratamento requintado. Foi assim com "Chão de Estrelas", de Sílvo Caldas, que pontifica na belíssima "Livros". "Coração Vagabundo" tem seu primeiro registro no disco Domingo, de 1967 (aqui). "Coração Vagabundo", de Lindomar Castilho, consta como gravada em 1970 (aqui): então não teria sido aí que Caetano encontrou a imagem que dá título à sua canção (nem se poderia supor o inverso). No entanto, cotejando as duas músicas (aqui), percebe-se o deslocamento de perspectiva que Caetano Veloso faz, introjetando em si uma voz de mulher: há uma mulher que sutilmente fala na música de Caetano, e o que diz é absolutamente libertário. Já na música de Lindomar Castilho... Em tempo: em 1980, Lindomar matou a tiros sua segunda mulher, de quem havia acabado de se separar, cumprindo pena de 12 anos pelo crime. O amor é um sentimento tão estranho que confunde homens e mulheres. Mas querer guardar o mundo em si (linda imagem) traz consigo a possibilidade de libertar das prisões.
Coração vagabundo
Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meu sonho sem dizer adeus
E fez dos olhos meus um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo em mim
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meu sonho sem dizer adeus
E fez dos olhos meus um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo em mim
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