Entro no ônibus, metade dos passageiros, como sempre, com os fones de ouvido devidamente conectados a algum mecanismo de reprodução de música. Havia lugares para sentar mais atrás, onde uma figura seu tanto bizarra, ao contrário dos sisudos passageiros, compartilhava a música que ouvia, logicamente com aqueles que não estavam conectados a fones de ouvidos. Cantava junto, acompanhando, e não pude deixar de reconhecer a voz da canção que ele cantarolava, ninguém menos que Cat Stevens, tocando na rádio. Nunca soube muita coisa dele, apenas ouvi algumas canções na época da universidade. Mas agora, ao escrever o post, descubro sua polêmica conversão ao islamismo (aqui). Mundo selvagem, difícil de ser atravessado com um sorriso.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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