No Coração a Mente
É uma Parasita ―
Se a comida não falta
Fica repleta ―
Porém se Ele se omite
A Lucidez se embota ―
De tal modo absoluto
Esse alimento.
The Mind lives on the Heart
Like any Parasite ―
If that is full of Meat
The Mind is fat ―
But if the Heart omit
Emaciate the Wit ―
The Aliment of it
So absolute.
DICKINSON, Emily. Alguns poemas. Trad. José Lira. São Paulo: Iluminuras, 2008, p.136-137.
Este poema causou-me desconforto. Num primeiro momento, li a subordinação da razão aos afetos ― e entendendo “afeto” num sentido amplo, a leitura não estava equivocada. O alimento que vem do coração. Dentendo-me na palavra “Parasita”, ocorreu-me então que recebem este nome uma miríade de seres, e que as belas orquídeas costumam ser tomadas por parasitas, embora aparentemente usem as árvores apenas como suporte. Imaginar a mente, a razão, o espírito como uma bela flor que depende de fontes obscuras para se suster. Que a mente às vezes parece uma casquinha a depender de fontes que estão em outro lugar, talvez no próprio corpo, mas fontes difíceis de acessar com um simples comando da razão. Se o coração se omite...
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