Sobre esta narrativa de Kafka, Pequena Fábula, diz um crítico informado: "Para o rato não existe escolha, ou melhor: essa escolha só pode se dar entre as de submeter-se à violência da ratoeira ou à violência do gato. Nas Conversações com Kafka, de Gustav Janouch, o poeta de Praga afirma, a dada altura, o seguinte: 'Existe muita esperança, mas não para nós'. Era esse o teor, a base, da sua dialética negativa ― e não há como discordar da coerência do humor negro contido nessa fábula."
CARONE, Modesto. Lição de Kafka. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.35-36.
A violência é um fato. Um dado bruto daquilo que, como advertia Fernando Pessoa, abusivamente chamamos de vida real. A violência não está nas pessoas, em fulano, sicrano ou beltrano, está nas forças que as agenciam, ou pelas quais somos agenciados. Depois de Foucault, ficou relativamente fácil dizer isso. O que incomoda na narrativa de Kafka, e no comentário, é a anulação completa da esperança, o que equivale a dizer que não há saída. Há saída, e o próprio Kafka apontou uma, numa singela e curiosa narrativa, A verdade sobre Sancho Pança. Porque deve existir algo além do simples espetáculo do horror da violência.
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