O que queria dizer do hífen em post anterior acabei não dizendo: há uma situação muito específica em que recomenda-se, para efeito de clareza, repetir o hífen na linha seguinte no caso de coincidir o hífen e a separação silábica no final da linha (conforme o novo acordo ortográfico). Matéria controversa, como se pode conferir AQUI, haja vista que o procedimento servia apenas para evitar equívocos na fase da tipografia, soando datado quando o computador reconfigurou a maneira de escrever, eliminando a necessidade da translineação. O emprego do hífen já me era difícil: com o novo acordo, eu desisti de tentar entender, recorrendo, para as dúvidas ortográficas (estas e quaisquer outras) ao Pequeno vocabulário ortográfico da língua portuguesa, que levo sempre comigo para a sala de aula, para dirimir qualquer dúvida que apareça, as minhas, principalmente. Mas não me escapou a função suplementar para os hífens duplos: manter apartado o que não pode estar junto. Quem me contou sabia o que estava dizendo, mesmo sem percebê-lo.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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