Para os momentos de grandes ou pequenas angústias: poesia. Porque o movimento é contínuo dentro da angústia, esfacela, desintegra. E o que seria insignificante de repente salta ao olhar e exige atenção, enquanto de insignificância em insignificância caminha-se léguas na errância. O que é de fato importante? A importância das coisas é dada pelo olhar que as enxerga: enxergá-las é já admitir sua importância, mesmo quando aparentemente elas se fizeram ver por si mesmas. A minúcia do olhar pode obliterar a largueza da percepção. Quando o céu está nublado, não é possível ver as estrelas. A poesia é um modo de enxergar através das nuvens.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário