Sonhei com a morte, um sonho sufocante de que consigo me lembrar pouco, pouco mais que uma sentença: o caráter arbitrário da morte sobre a vida, o fato dela vir de surpresa, sem aviso, e levar alguém. Não sei se era eu que morria na figura de alguém que morria no sonho, mas enquanto alguém morria acordei com as mãos cruzadas sobre o peito, a respiração difícil, não sei se pela matéria do sonho ou pela força das mãos, provavelmente para sair daquela posição e me acordar do sonho. Passados dois dias o telefone tocou. Alguém próximo da família, uma pessoa jovem, morreu hoje de forma estúpida. Então foi inevitável lembrar do sonho e de muitas outras coisas, e me veio à mente este poema:
A MORTE
A morte vem de longe
D fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.
MORAES, Vinicius. Nova antologia poética. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005, p.41.
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