Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mário Faustino


POEMAS DO ANJO

I
Em rosa pura e lírio
o anjo está presente
quisera em rosa pura
ou lírio transformar-me

Por mais que sempre o cante
o anjo não me atende
ouve talvez porém
a voz do anjo é silêncio

Por que sempre buscá-lo
se o anjo tocado
perde as asas e chora?

O anjo não tem sombra
o anjo nunca é visto
apenas pressentido.

II
Suave rumor de passos em viagem
Vens como o vento acalentando as folhas
Adormecendo a rosa à tua passagem

Donde esta paz o sono o sonho a sombra?
Apenas leves dedos sobre os olhos
Somente a mão do anjo sobre o ombro.

FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros poemas. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p.212.

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