[Canto III, Poemas Relativos, XXVII]
Contemplar o jardim além do odor
e a mulher silenciosa entre os semblantes,
e refazê-los todos, todos antes
que o tempo condenado os atraiçoe.
Porque eu quero, em memória, refazê-los:
flor longínqua, mulher não pertencida,
substância inexistente, móvel vida,
intercessão de nadas e cabelos.
E meus olhos ausentes me espiando
entre as coisas caducas e fugaces
a minha intercessão em outras faces.
Orfeu, para conhecer teu espetáculo,
em que queres senhor, que eu me transforme,
ou me forme de novo, em que outro oráculo?
LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu. São Paulo: Ediouro, s/d, p.81.
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