Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 7 de janeiro de 2012

sentimentos confusos

Ao reler o conto “Nenhum, nenhuma”, de Guimarães Rosa, de verve platônica, é inevitável o impacto da cena final:
"E eu precisei de fazer alguma coisa, de mim, chorei e gritei, a eles dois: ― 'Vocês não sabem de nada, de nada, ouviram?! Vocês já se esqueceram de tudo o que, algum dia, sabiam!...'
E eles abaixaram as cabeças, figuro que estremeceram.
Porque eu desconheci meus Pais ― eram-me tão estranhos; jamais poderia verdadeiramente conhecê-los, eu; eu?"

ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p.54.

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