Todo mundo conhece o ritual de mudar(-se): embalar livros, pertences, coisas várias, enfim, a casa, em caixas de papelão. Para quem faz isso amadoristicamente, o ritual inclui fazer incursões ao supermercado mais próximo, várias vezes às vezes, e voltar para casa munido de boas caixas, limpas e novas, desmontadas, resistentes e prontas para acondicionar o lar, em migração para novo endereço. Não é que hoje, no supermercado, ao bater os olhos em uma caixa novinha em folha, me lembrei no átimo do ritual? Naturalmente porque, em função de escolhas e demandas profissionais, tive de fazê-lo um bom número de vezes. Então a singela caixa ― aberta, ainda por cima ― teima em me lembrar que minha condição, por mais assentada que agora pareça, guarda uma memória de itinerância? Memória que parece querer transbordar das muitas caixas em que fiz caber... o que exatamente?
Parêntese: o editor de textos grifa em vermelho o termo “itinerância”, e o Houaiss não o registra. Também num texto há muita coisa que não quer caber, e dele transborda.
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