Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 22 de março de 2012

a alegria que se tem

A alegria é uma condição incomum, porque depende de vínculos efetivos com uma infância saudável e que tenha sido infância o suficiente para legar, vida afora, certo frescor de inocência e espanto. A alegria é um pacto profundo com o bem e tudo o que ele representa. O bem, no sentido de uma disposição genuína para a vida, para o que é vivo, o que quer viver, para sentimentos como amor e amizade. O que é querer o bem? É, em camadas por vezes inacessíveis, lutar por ele, estar a seu lado, saber que o caminho a ser trilhado é duro, difícil e penoso. Querer o bem é já trazê-lo junto a si, e isso se transforma em alegria. Mas como é difícil romper o diamante bruto do bem para chegar à alegria. 

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