Era um tempo de olhares alternados
em que dois entes ou anjos, curiosos
me fitavam das trevas ou de cima,
dias e noites, duros, obstinados.
Livraram-me dos seres entranhados
em nós, uns mansos e outros tumultuosos
transmitidos de sangues e de climas,
da vida extinta dos antepassados.
Esperaram que me fizesse poeta
para dissimular seus greves rostos
e me espreitarem hoje disfarçados.
E eis que deixando essa órbita secreta:
lançam ao poema risos e desgostos,
gritam em torno, chamam-me dos lados.
Jorge de Lima. Poemas negros. Rio de Janeiro: Record, 2007, p.146.
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