Quem, se eu gritar
me concede
a profundeza inversa deste céu
que ao fim da tarde
eu vejo da minha janela
contemplando os anjos
que as nuvens imitam?
Alguém me ouve se eu gritar?
Oiço vozes
mas são inventadas
porque é inútil perscrutar o silêncio
e por isso vos reinvento
a cada pancada do meu coração
a cada pancada surda
que não repercute
no ímpeto claro do vosso desenho fantástico
no alado lado da vossa impossibilidade.
Se eu gritar
alguém me ouve
em todas estas coisas?
[...]
Ana Hatherly. Rilkeana. Lisboa: Assírio & Alvim, 1999, p.29.
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