Os problemas apontados pela crítica em Easy Rider procedem. O filme vale por três aspectos: Jack Nicholson e a personagem que interpreta (George Hanson), sem dúvida o ponto alto do filme, pela competência de sempre; o diálogo, inserto no meio do filme, entre as três personagens principais naquele momento, em que George declara a Billy e Watty (a dupla de traficantes que segue rumo ao Mardi Gras), sutilmente, não precisar da marihuana (e o que vem depois) para sonhar com um mundo melhor. Na cena, enquanto conversam sobre UFO's e liberdade, seu cigarro apaga e ele nem percebe, e esta é a melhor pista de que a viagem dos outros dois não lhe interessava ― liberdade era outra coisa para ele. O terceiro ponto do filme é seu aspecto de videoclipe de canções dos anos 60, o que não deixa de ser um mérito.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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