"Uma coisa que vinha acontecendo comigo é muito sintomática: como a própria análise vinha se transformando numa DR, eu instintivamente imaginava um interlocutor para as coisas que estavam acontecendo lá. Era meio imprevisível. Vinha um pensamento assim: 'Eu preciso falar sobre isso...' Mas 'isso' era alguma coisa (ou fala) que tinha acontecido lá, na sessão. E, ao sentir necessidade de falar, o interlocutor é como se fosse o analista, mas um outro, sempre outro, que me ouvisse, outro que eu não sei quem é, supostamente alguém que ocupe esse lugar da escuta psicanalítica. Nunca o complemento da frase, com quem?, era a minha analista. Essa situação se intensificou nos últimos dias, a ponto de eu proclamar para mim mesma, esta semana, o direito ao silêncio, porque não aguentava mais falar, falar, falar... e continuar sentindo necessidade de ser ouvida."
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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