Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 5 de julho de 2012

cidade ao anoitecer

Hoje, no Centro, já anoitecendo, um homem, batedor de carteira, corria em disparada, quando caiu violentamente no meio da rua e foi dominado por dois policiais, que mediam velocidade com ele em perseguição desatinada. Os transeuntes pareciam extasiados com a cena. Ouvi o baque de seu corpo de encontro ao chão. Enquanto isso, as lojas de roupas femininas estampavam liquidação com preços de três dígitos antes da vírgula. Na troca de turno dia/noite das ruas do Centro, aos poucos foram rareando os frequentadores habituais  exceto nos pontos de happy hour  e começando a ganhar evidência catadores de papel e moradores de rua  criaturas da noite, lembrando o título de uma canção cujo lirismo passa distante desse mundo desencantado.

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