Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

chuva antiga

A chuva que agora cai
com força
não conhece história.
Cada gota traz condensados,
em alta densidade,
o anonimato e os grandes feitos
da História.
A mesma água
a vagar em círculos pelo mundo,
sem geografia ou passado,
no eterno presente
das coisas sem vida.
Mas quanta vida em cada chuva!

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