Tenho marcadores aparentemente inúteis, vazios, ocos
de sentido. Às vezes vem-me o ímpeto de dar uma arrumada na casa, varrer o
entulho comunicativo. Mas logo em seguida já estou pensando em outra coisa,
esqueço o furor higiênico, para voltar a ele quando vou postar alguma coisa e
tenho dificuldade de me lembrar, num lance rápido, dos tais marcadores inúteis.
Alguns certamente podem estar sobrando, englobando outros (como na enciclopédia
chinesa de Borges), mas qualquer tentativa de ordenar, classificar, trai um
esforço racional que, em si, é apenas uma das faces que reconheço em mim,
forte, sem dúvida, esforçada o suficiente para dar sentido a imagens
disparatadas dos sonhos, quem sabe prevalecendo sobre as demais. Um colega de
filosofia me chamou de racionalista. Perguntei-lhe então, de modo até inocente,
como quem pede esclarecimentos a alguém que sabe mais numa dada matéria, o que
é um racionalista. Ele devolveu-me a pergunta, invertendo de forma irônica a situação.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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