Um amigo adverte: dependendo da fonte de que procedem, as críticas são na verdade elogios. É bom acolhê-las, portanto, porque, como o negativo de uma fotografia, elas estão dizendo pelo avesso, dizendo o que não admitiriam dizer. Outra amiga diz: quem aponta o dedo para outrem traz três apontados para si. Crítica "construtiva" é eufemismo empobrecido empregado por quem leu mal a famosa passagem bíblica, da trave e do cisco no olho. Críticas são sempre críticas, cada um faz delas o que bem entender. Se a pessoa não se cuidar, o mundo passa sobre ela como um trator, e ainda diz que tentou ajudar.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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