“Eu nunca disse que achava o brasileiro bonzinho. Eu disse cordial, cordial assim: ‘de coração’. Podia até detestar cordialmente. Isso não quer dizer que seja ‘cordiais saudações’. Hoje, eu não usaria essa expressão porque é ambígua e se presta a essas dúvidas. Hoje, usaria outra. Mas não vou renegar o que eu escrevi há 40 anos. Mas nunca disse que o brasileiro é bonzinho. O sujeito pode ser mauzinho e mauzão também.”
Sérgio Buarque de Holanda em entrevista concedida à Folha de S. Paulo em junho de 1977, respondendo às perguntas: “E o mito do homem cordial? Do homem bonzinho!” Trata-se de alusão ao polêmico capítulo de Raízes do Brasil, “O homem cordial”, que assinala, logo de início, as implicações políticas da não separação entre a ordem familiar e a ordem do Estado, prenhe, entre nós, das mais nefastas consequências no âmbito da política, por exemplo no trato com a coisa pública, a própria dificuldade de se constituir, efetivamente, uma esfera pública: “[...] onde quer que prospere e assente em bases muito sólidas a ideia de família ― e principalmente onde predomina a família de tipo patriarcal ― tende a ser precária e a lutar contra fortes restrições a formação e evolução da sociedade segundo conceitos atuais.”
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.143-144. O trecho da citada entrevista encontra-se em: Encontros: Sérgio Buarque de Holanda. Org. Renato Martins. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009, p.97.
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