Como dois e dois são cinco, sinto que há amarras demais ao meu redor, invejo os pássaros, quero só o que quero. As pessoas mais interessantes são as livres. Volta e meia lembro-me do médico de Goiás, um ser liberto. Na minha memória ficaram impressos sua gentileza, seus gestos meio amalucados, sua conversa agradável, sua fala imprevisível. Há seres em graus diferenciados de espiritualidade: quando se encontram, dois e dois são cinco: algo da lógica do mundo foi trapaceada. Toda vez que me lembro desse médico, um sorriso se esboça em mim.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário