[imagem obtida aqui]
...que se a gente aproximasse o ouvido de uma concha, escutaria o barulho do mar. Não havia mar onde eu morava, mas havia moluscos, como em qualquer parte, e imaginação. Só muito tempo depois vim descobrir o conteúdo daquelas peças calcárias que encontrava comumente no lugar onde nasci e passei a infância. Escutava o barulho do mar pondo a concha ao ouvido? Criança escuta o que quiser. Quando conheci o mar, na adolescência, não me apaixonei nem nada, sequer o notei, pois a moda era ir à praia. Não o vi, mas ele me viu, pois fiquei muito tempo na água, o calor era forte, experimentei uma força que não conhecia, e acabei desmaiando no dia seguinte ao ver no espelho meu rosto alterado pelo sol. Isso me afastou de praias. Eu descobri o mar quando fui morar no litoral e me dei conta de que não precisava ir à praia para sentir o mar. Bastava tomar um ônibus à noite e ir em direção à praia, sentar em qualquer lugar e, quase indiferente, saber que o mar estava ali, fazendo companhia. Mas faz bem pouco tempo que liberei meus sentidos para perceber o barulho inconfundível do mar. A lembrança do episódio da concha do molusco é uma pérola da infância, esquecida por tanto tempo, e agora secretada pelo mar.
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