II, 3
Espelhos: o que sois ninguém se viu,
em sua essência, retratá-lo.
Vós que vazais um intervalo
no tempo com as peneiras do vazio.
Perdulários das salas ocas esqueceis,
quando anoitece, como florestas distantes,
e o lustre ― cervo de dezesseis
pontas ― devassa com as luzes penetrantes.
Talvez estejais cheios de pinturas.
Umas parecem em vós incorporadas ―,
outras dispensais com um brilho indeciso.
Mas as mais belas ficarão guardadas,
até que lá do alto, em suas feições puras,
penetre, livre e lúcido, Narciso.
RILKE, Rainer Maria. Coisas e anjos de Rilke. Trad. Augusto de Campos. São Paulo: Perspectiva, 2007, p.159.
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