A proposta reinveste sobre o que Wim Wenders fez em Quarto 666, tomando-o como entrevistado sobre o futuro do cinema. Mas se então o debate girava em torno do cinema e a emergência de novas mídias, como a televisão e o VHS, a possibilidade de assistir o filme em casa, o que conferia uma tônica de pessimismo às falas dos entrevistadoss, conforme o próprio Wenders pontua, sua posição, cerca de 20 anos depois, é otimista em relação ao cinema, otimista demais talvez, e o alvo que ele tem em mira é bastante problemático: "...as pessoas precisam do cinema, precisam desse instrumento, mais do que qualquer coisa. Todos nós sabemos que a 'palavra', a 'palavra falada' ou a 'palavra escrita', pertencem à cultura do passado. E que o futuro de nossa cultura é a 'imagem'. E este futuro recém começou." Há muito que se anuncia o fim do conhecimento centrado na palavra. A conclusão da entrevista é decepcionante, vinda de um cineasta como Wim Wenders, cujo brilhantismo da obra dispensaria esse triste papel de advogar em causa própria.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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