Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 26 de março de 2011

Clarice Lispector por Gonçalo M. Tavares

“Uma barata pode ser mais importante que um imperador. Se os teus olhos olharem mais tempo para uma barata do que para um imperador, a barata se tornará mais importante que o imperador. Chamamos imperador ao imperador, e barata à barata, porque a média dos olhos humanos olha mais tempo para o imperador do que para a barata.
‘O que é um revolucionário?’, pergunta-me a minha filha de 3 anos, e eu respondo: ‘É quem olha mais tempo para uma barata do que para um imperador.’
‘E o que é um imperador?’, pergunta-me minha filha. ‘É aquele que não deixa que se olhe demasiado tempo para a barata’, respondi.
E, por favor, não me faças mais perguntas." 

Fragmento do livro Biblioteca, de Gonçalo M. Tavares, em diálogo com a obra de Clarice Lispector. Postado por Luiz Lopes em seu Caderno de Caligrafia

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