Acabei de atualizar o lattes, fazendo lá constar que agora sou "dotôra". Não que isso tenha mudado qualquer coisa de substancial em mim. No meio da confusão que tem sido minha vida, a última coisa de que me lembro é o título. Não pertenço ao grupo dos que se autointitulam doutores/as por mero hábito do ministério (ou monastério): médicos, advogados, políticos: os doutores por convenção que grassam no país dos bacharéis, dos quais Oswald de Andrade fez troça no Manifesto da Poesia Pau-Brasil: "O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente." [aqui] Trata-se de fugir da erudição de verniz e admitir que o título, além de representar a culminância de uma etapa longamente ensaiada (desde que escolhi Letras sabia que iria me doutorar em Literatura Brasileira), representa melhorias efetivas de salário. Amigos brincaram de forma até surpreendente com o título, mas eu levei na esportiva. O que conta é que consegui o que eu queria: fazer um doutorado que representou uma possibilidade efetiva de aprendizado e crescimento pessoal, numa instituição de minha escolha. Acho que as minhas fichas ainda não caíram, só agora começo a perceber o que efetivamente conquistei.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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