Essa é de fato uma sessão nostalgia, dos anos 80, mas também de mim nos 80. Uma nostalgia de mim mesma. Eu não passava de uma adolescente quando vários crooners e nomes de peso do pop rock resolveram se reunir em prol de uma causa humanitária e cantaram We Are The World. Sem hipocrisia ou falso desdém: ficou bonito. A época pedia. É ímpar ter vivido a adolescência nos anos 80: havia uma promessa de qualquer coisa que não se cumpriu, havia uma esperança, creio que havia mais boa vontade de construir um mundo melhor, sentimentos que também costumam pontificar na adolescência. Ou quem sabe é a memória do que eu era então que os projeta na época. Não havia qualquer contradição entre ser inteligente e acreditar no ser humano. Eu acreditava sobretudo em mim, e a vida fluía. Não é que não havia problemas: havia esperança, mas de um modo que nem precisava saber que havia. A memória é movediça, sou e não sou a adolescente que fui. Alguma coisa muito boa daquele tempo persistiu, latente, e vem ressurgindo.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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