O exílio da infância está na origem de todos os outros; é quando se aprendeu a língua mãe, pátria que se confunde com o rincão em que se nasceu. Se por acaso este lugar se chamar Espírito Santo, o exilado pode sentir-se íntimo de qualquer coisa que assume o aspecto de uma distância impossível: “Quando tudo passou a ser infinito e nada terra”. O Espírito Santo continua ali, no mapa ― “Digam-lhe que Cachoeiro continua no mapa” ―, ao alcance de um telefonema, de uma passagem de ônibus, mas o mapa dos afetos confundiu as possibilidades, e viver tornou-se um verbo imperativo. A infância, tempo primevo da estreia num palco exclusivo, quando ainda não se sabe o que é palco ou improviso ou personagem, e está-se ali, brincando de aprendizagem, sob os mais diferentes disfarces, para mais tarde, embora isso dificilmente pudesse ser pressentido, desejar reencontrar no espelho a face, escondida por muitos e por vezes difusos papeis, da infância. Eu não sabia nada da infância, até percebê-la acabando... Ainda e sempre, o poema que abre o filme Asas do Desejo, "Song of Childhood": “When the child was a child, / it did not know that it was a child.”
Der Himmel uber Berlin - 1/3 from RSM on Vimeo.
Versos citados de Vinicius de Moraes, respectivamente “Pátria Minha” e “Mensagem a Rubem Braga”. Vinicius de Moraes. Nova antologia poética. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário