Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 10 de setembro de 2011

sonhando Godard

Ontem, no final da tarde, vi, num canal alternativo, uma matéria sobre o cinema de Jean-Luc Godard. Esta noite, tanta coisa compareceu em meus sonhos, signos esparsos unidos por um fio muito tênue... mas estava tudo lá, elementos díspares que a música do dia mais ou menos acalma ― aquele calo da alma que não quer calar, certas pessoas (o que representarão?), amizades perdidas que levam de volta ao amor. No sonho, como no cinema de Godard, é a própria noção de representação que entra em cena. Talvez não seja o caso de tentar interpretar, mas deixar que os signos falem: afinal eles conseguiram romper a barreira da noite e encontrar no dia um mote, um elemento deflagrador e aglutinador ― as imagens em movimento do cinema, não qualquer cinema. Então o sonho seria como um filme, um curta-metragem, vivido quando se dorme e assistido quando se vive. E vertido em escrita quando se percebe nas palavras a extensão dos difíceis signos entrevistos no sonho. 

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