Ontem, no final da tarde, vi, num canal alternativo, uma matéria sobre o cinema de Jean-Luc Godard. Esta noite, tanta coisa compareceu em meus sonhos, signos esparsos unidos por um fio muito tênue... mas estava tudo lá, elementos díspares que a música do dia mais ou menos acalma ― aquele calo da alma que não quer calar, certas pessoas (o que representarão?), amizades perdidas que levam de volta ao amor. No sonho, como no cinema de Godard, é a própria noção de representação que entra em cena. Talvez não seja o caso de tentar interpretar, mas deixar que os signos falem: afinal eles conseguiram romper a barreira da noite e encontrar no dia um mote, um elemento deflagrador e aglutinador ― as imagens em movimento do cinema, não qualquer cinema. Então o sonho seria como um filme, um curta-metragem, vivido quando se dorme e assistido quando se vive. E vertido em escrita quando se percebe nas palavras a extensão dos difíceis signos entrevistos no sonho.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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