Na confusão das referências, julgava ter lido em Walter Benjamin que a História é pássaro que põe ovos de ferro. É que o pensador alemão lançou mão de seres alados chamados anjos para falar da História:
“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso.”
A imagem, dura, dos ovos de ferro na verdade é de Guimarães Rosa. Mas poderia servir para a História, voo de pássaro agrilhoado por correntes de ferro. A imagem que emerge dos olhos assustados do anjo de Klee, a partir do olhar de Benjamin, suscita pássaros engaiolados no próprio voo, pois o mar de ruínas da História não lhes oferece pouso.
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. __. Magia e técnica, arte e política. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 7.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p.226. (Obras escolhidas, 1)
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