Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

não faz sentido

Sonhos às vezes podem ser dementes, a tal ponto que, pela manhã, concedem apenas um lampejo para recolherem-se às pressas naquela obscura região impenetrável ao dia. Mas o estranho é identificar, mesmo nas imagens mais incompreensíveis, pontos de intersecção incógnitos com o dia. Sonhar a violência, ao modo de uma tela dilacerada de Picasso, é uma forma de dar expressão ao grande mural da violência sobre o qual vão se projetando as sombras angustiadas da vida. 

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