São dias diferentes, estes. Passado o grande entusiasmo que envolve o Natal, resta menos que uma semana para o ano novo. É como se o ano inteiro convergisse para o Natal, e nesses pouquíssimos dias que faltam para o ano terminar fosse possível sentir uma densidade diferente no ar. Uma necessidade forte de recolhimento, de tocar o próprio tempo, afinal um detalhe insignificante no grande concerto cósmico. Nós ocidentais vivemos o tempo de duas formas: o tempo linear e o tempo cíclico. A passagem do ano projeta uma linearidade sobre um fenômeno que é, em essência, cíclico.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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