Em tempos vulgares como o nosso ― de audiência barata ―, assistir Blow-up, um filme antigo, é penetrar num universo sofisticado. Conhecer a gênese literária do filme (um conto de Júlio Cortázar) endossa a aura de tratamento estético de uma tema contemporâneo: o que é a realidade, quando se tornam sucessivos e sobrepostos os filtros e camadas com que ela é dada. Nesse sentido, as lentes do fotógrafo Thomas (David Hemmings), personagem muito bem composto e elaborado, captam a beleza com frieza e distanciamento. Quando a possibilidade de alguma coisa diferente surge nas imagens sucessivamente ampliadas da cena do casal no parque, a ampliação mostra a rarefação da imagem. O fotógrafo retorna e encontra uma prova de que intuiu corretamente, na sequência de imagens, a cena de um crime, mas está sem sua objetiva para registrar a imagem que comprovaria sua intuição. Quando retorna para fazê-lo, a prova não está mais lá ― foi subtraída do seu campo de observação, assim como as imagens captadas por ele no parque, roubadas enquanto ele tentava decifrar o enigma solitariamente no parque. Os dados se completam no mente do fotógrafo e do espectador que o acompanha, mas de mais ninguém. Então, na cena final, na mímica do jogo de tênis, é possível sorrir da imaginação. No parque, as lentes da objetiva, num exercício fino do olhar, flagraram outros lados da beleza. Mas não foi possível decifrá-los. Ampliando-os, sobrepondo-os em camadas de imagens, chegou-se à rarefação, como a sugerir que perto demais tudo se deforma ao olhar. Qual é a distância que a realidade pede para ser vista?
imagem obtida aqui
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