O rochedo do sono é tão fechado,
tão pedra de Esaú, tão existido,
que ele cumpre na vida um grande fado,
― o de acolher um Édipo impunido.
Sempre em seu bojo há um anjo adormecido
e um menino num poço debruçado;
o cão noturno late, e o seu latido
é o grito do menino já afogado.
À noite, barba-azul dormindo joga
sete princesas pálidas no poço,
e o poço voracíssimo as engole.
E engole indiferentemente quem se afoga,
― sete pedras atadas ao pescoço
que pedra e amor é o mesmo no seu gole.
Jorge de Lima. Poemas negros. Rio de Janeiro: Record, 2007, p.178.
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