Um modo de descansar é o minimalismo ― ater-se ao indispensável, poupar gestos, emoções, palavras. O outro é evitar a rota dos discursos, qualquer coisa que signifique trabalho mental. É claro que ninguém se furta a isso, a mente não para. Mas pode diminuir o ritmo. Principalmente porque o trabalho psíquico é constante, na usina de emoções e sentimentos que constitui cada ser. Esta noite, por exemplo, sonhei coisas familiares (no sentido de dizer respeito à família) numa ótica inusitada. E havia uma carga forte de angústia nos conflitos, cuja densidade se traduzia no esforço de subir e descer escadas.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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